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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Bolsa brasileira teve apenas três empresas estreantes neste ano



A bolsa brasileira deverá encerrar 2012 com apenas três aberturas de capital, enquanto sete companhias desistiram de realizar ofertas iniciais de ações. Pela primeira vez desde 2008 o número de empresas que abandonaram os planos de listagem superará com folga o de novatas.

A razão alegada pelas companhias para as desistências é quase sempre a mesma - as condições adversas de mercado. Este ano, por conta tanto do humor dos investidores com o Brasil quanto dos prazos legais de análise de ofertas, é muito pouco provável que uma nova operação se concretize. O resultado de ofertas de empresas já listadas anunciadas esta semana, Aliansce, Minerva e Marfrig, deverão ser um bom termômetro para o apetite para novas distribuições em 2013.

Levantamento feito pelo Valor, a partir de dados disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mostra que, de 2006 para cá, 74 empresas desistiram de abrir o capital no Brasil. Desse total, apenas 11 retomaram as operações um ou dois anos depois e as concluíram; e seis ainda esperam uma janela de mercado.

Outras 21 companhias acabaram envolvidas em operações de fusões e aquisições. A maioria das empresas que chegou a pensar na bolsa continuou tocando seus projetos utilizando outras fontes de financiamento ou, por serem projetos que buscavam recursos em época de euforia e excesso de liquidez dos mercados, simplesmente desapareceram. Hoje se sabe que mesmo algumas que chegaram à bolsa não estavam preparadas para ir a mercado.

O ano que concentrou a maior quantidade de desistências - 34 - foi 2008. A crise financeira global acabou com a euforia vista no anterior - 2007 foi um ano de recordes para a bolsa, com 64 estreantes. Não tivesse o mundo financeiro afundado com os problemas do "subprime" americano, o Brasil continuaria com quantidade muito relevante de operações, aparentemente.

Paralisar o processo por conta das condições de mercado equivale dizer que, na maioria dos casos, os empresários não ficaram satisfeitos com o preço que o mercado pagaria por suas ações. Nos anos de euforia, quando havia muita demanda pelos papéis, as empresas saíram vendidas a múltiplos altos, o que chamou também a atenção dos donos. Veio a crise, algumas empresas não entregaram resultados e os investidores passaram a ser muito mais seletivos - e a pedir descontos para levar as operações.

Um executivo de banco de investimentos lembra que o empresário sempre vai querer um preço alto por sua companhia.

"Cabe aos bancos fazer uma estimativa mais correta possível do valor do negócio. Muitas vezes os bancos pegam o mandato da operação esperando que o mercado convença o dono da empresa. Mas o resultado disso acaba sendo a paralisação da oferta", diz. Na visão dele, ao definir a estruturação da operação, os empresários não devem simplesmente ficar com banco que calcula o melhor múltiplo para seu negócio. "É preciso saber ouvir aquele banqueiro que não traz só boa notícia", diz.

O que se sabe também é que os bancos de investimentos têm destinado grande tempo ao chamado "educação do investidor", reuniões com potenciais investidores que antecedem o início da oferta de fato, para ter certeza de demanda e da faixa de preço a ser sugerida para o negócio.

Certamente, nos últimos anos, algumas operações foram paralisadas também por eventos atípicos, como os problemas enfrentados pelos Estados Unidos, que trouxeram incertezas e afugentariam qualquer investidor.

De qualquer maneira, iniciar a o processo na CVM significa colocar a empresa em uma vitrine que acaba chamando a atenção de outros investidores. Se o mercado de capitais não absorveu as ofertas, muitas empresas aproveitaram a fase de preparação para a operação, em que passaram a ter balanços auditados, conselhos de administração e aprimoraram governança, para atrair novos sócios.

O episódio mais recente envolve a mineradora pré-operacional Manabi Holding, que entrou com um pedido de análise de oferta em maio, anunciou a desistência em agosto e, em setembro, divulgou um aumento de capital de R$ 613 milhões. Os recursos vieram dos atuais sócios e de um parceiro novo, a americana EIG Global Energy Partners.

A Serasa foi uma das primeiras a desistir da operação, em 2007, e atraiu a Experian para seu capital - a britânica pagou US$ 1,2 bilhão por 65% da brasileira. Seis meses depois subiu a fatia para 70%. Esta semana, a Experian informou que vai comprar a fatia restante, nas mãos de bancos brasileiros, por R$ 3,1 bilhão. O valor do negócio da Serasa, de 2007 até agora, valorizou, aos olhos da controladora, 470%. Essa evolução comprova a tese de muitos no mercado de que, para os bons negócios, sempre há comprador.

Alguns projetos que tentaram ir à bolsa aproveitando-se da farta liquidez nos mercados no passado não tiveram o mesmo sucesso. São os casos da Summer Brasil Turismo e da Global 4 Empreendimentos Turísticos, ambas pré-operacionais e que não foram adiante. Esse foi um setor que poderia ter tido representatividade na bolsa, mas não se confirmou. Foi também prejudicado pelos problemas enfrentados pela Invest Tur - em 2010, os sócios fundadores foram acusados, pela CVM, de ter agido em conflito de interesse com a empresa, que acabou vendida a GP.

Os setores de energia, petróleo e imobiliário poderiam ter engordado ainda mais na bolsa. Dezoito companhias ligadas a essas atividades desistiram de ofertas.

A maioria das empresas continuou com seus projetos, mesmo sem o mercado - optou por empréstimos bancários ou o BNDES. As desistentes, entretanto, não gostam de falar do assunto - procuradas pelo Valor, apenas três deram entrevista.

Entre elas, o Banco Industrial, que iniciou os procedimentos para a captação em 2008, quando vários bancos médios acessaram a bolsa - vários deles, inclusive, apresentando graves problemas de solvência recentemente. Apesar de não ter levado adiante a captação, o Banco Industrial manteve-se uma empresa de capital aberto, com área de relações com investidores, mas sem ações em bolsa.

"Na época pretendíamos fazer uma captação, mas depois de ver o que houve com outros bancos achamos por bem esperar uma oportunidade melhor", afirma Eduardo Barcelos Guimarães, diretor financeiro e de relações com investidores do banco.

"E já que tínhamos feito todo o trabalho ficamos com o registro para a qualquer tempo poder emitir ações", Hoje ele diz que uma emissão está fora dos planos. Assim como o banco, a argentina Solvay Indupa, de produtos químicos, e a Desenvix, de energia, acabaram apenas listando ações, sem captação - a primeira tem BDRs, a segunda está no Bovespa Mais. Duas que desistiram e retomaram o processo, Tivit e Redecard, pouco mais de um ano depois de aberta optaram por fechar capital. Este ano também esse tipo de operação vai superar o total de estrantes, abrigando empresas que tinham relevância na bolsa, como a própria Redecard, Confab e Uol.

Fonte: Valor Economico 

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